segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sábato, um homem com compromisso ético que a arte salvou do suicídio

Escritor argentino, um dos grandes nomes da literatura latino-americana, morreu neste sábado, aos 99 anos


O escritor argentino Ernesto Sábato, morto neste sábado aos 99 anos, se destacou por um firme compromisso político e ético que permeou sua obra e graças à arte salvou-se do suicídio, segundo confessou em entrevistas.
Nascido em Rojas, na província de Buenos Aires, em 24 de junho de 1911, o autor de "O Túnel" se consolidou como o expoente da literatura argentina com maior projeção internacional. Agraciado com o Prêmio Cervantes em 1984, o escritor chegou a ser indicado pela Sociedade Geral de Autores e Editores da Espanha como candidato ao Prêmio Nobel de Literatura de 2007.
"A arte me salvou e por isso minha arte é trágica", afirmou em 1992 o autor de "Sobre Herois e Tumbas" à revista "Newsweek", à qual confessou que tentou o suicídio duas vezes.
Simpático ao socialismo, Sábato também foi reconhecido por sua defesa dos direitos humanos. Em 1984, presidiu a Comissão Nacional sobre Desaparecimento de Pessoas (Conadep), que redigiu o "Relatório Sábato", também conhecido como "Nunca mais", sobre os horrores da ditadura militar argentina (1976-1983).
Sábato também escreveu cartas contra o terrorismo da ETA e ensaios sobre a dramática situação da infância no mundo. "A Humanidade vive um tempo de imoralidade", advertiu no final de 2000 em um texto para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O prólogo do relatório "Nunca Mais" valeu ao escritor fortes críticas de organizações humanitárias que questionavam a chamada "teoria dos dois demônios", sobre a violência política que sacudiu a Argentina na década de 1970.
No texto, o escritor sustentou que naqueles anos, a Argentina "foi convulsionada por um terror que provinha tanto da extrema direita como da extrema esquerda". "Nossos filhos não eram demônios. Eram revolucionários, guerrilheiros, maravilhosos e únicos que defenderam a Pátria", afirmou a presidente da Associação Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, durante um discurso proferido em 24 de março de 2006, quando foram completados 30 anos do golpe militar.
"O que Sábato fez é uma porcaria, mas é seu pensamento", avaliou Hebe. Mas a postura comprometida de Sábato não diminuiu seu número de leitores: seu ensaio "A resistência" (2000), que foi publicado primeiro na internet, apesar da aversão do escritor a tudo o que significasse globalização, foi um sucesso e a primeira edição impressa, de 100 mil exemplares, se esgotou rapidamente.
A fama internacional chegou em 1961, com o romance "Sobre Herois e Tumbas", e a consagração em 1974, com "Abaddón o exterminador", que foi premiado na França, onde também recebeu o título de Cavaleiro das Artes e das Letras.
Antes de se iniciar na literatura, Sábato estudou física na Universidade Nacional de La Plata e entre 1938 e 1939 foi bolsista no Laboratório Curie de Paris. Em seu retorno à Argentina, em 1940, se dedicou ao ensino e publicou sua primeira obra, uma coletânea de ensaios intitulada "Um e o Universo", em 1945, quando abandonou sua carreira científica para se dedicar totalmente à literatura.
Sua última obra publicada foi "Espanha nos Diários da Minha Velhice", fruto das viagens feitas ao país em 2002, quando a Argentina se submergia na mais feroz crise econômica de sua história. Entre os inúmeros prêmios recebidos por Sábato, também estão o Menéndez Pelayo (1997) e o Gabriela Mistral (1983), entregue pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
Sábato também recebeu críticas de outros escritores, como Jorge Luis Borges. "(Sábato) escreveu pouco, mas esse pouco é tão vulgar que nos aflige como uma obra copiosa", definiu em 1956 o autor de "O Aleph", segundo o diário que Adolfo Bioy Casares escreveu sobre suas conversas com o amigo Borges.
Sábato também preencheu seu tempo com a pintura, embora tenha confessado que seu "espírito autodestrutivo" o levou a destruir boa parte de suas obras. "Forçado por amigos", segundo declarou, apresentou uma dezena de suas obras em 1989 no Centro Pompidou, de Paris, antes de fazer o mesmo em Madri.
O escritor argentino atravessou momentos difíceis em sua vida com a morte do seu filho mais velho, Jorge, em um acidente de trânsito em 1995, e depois de sua primeira esposa, Matilde, em 1998. Em seguida, Elvira González Fraga entrou em sua vida e o acompanhou da viuvez à morte.
Fonte: Último Segundo 30/04/2011

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