quarta-feira, 25 de maio de 2011

Editoras se unem e levam e-books para bibliotecas universitárias

Em 2010, Objetiva, Record, Sextante, Rocco, Planeta e L&PM fundaram a DLD para converter seus livros para o formato digital e distribuí-los. Ontem, pouco mais de um mês desde que a DLD começou a operar, outras quatro grandes editoras, mas com forte presença no segmento de livros universitários, também se uniram para uma entrada mais agressiva no mercado de livro digital. Só que dessa vez o foco sai das livrarias e vai para as bibliotecas das universidades brasileiras. 

Grupo A, GEN, Saraiva e Atlas inauguram o projeto “Minha Biblioteca” em 1º de junho. Nele, será reunido o catálogo digital das quatro sócias, estimado, hoje, em quatro mil títulos. Funciona assim: com base no interesse da universidade, no número de alunos, na perspectiva de acessos e no potencial de crescimento, a empresa, que também se chama Minha Biblioteca, customiza um catálogo e o vende inteiramente à universidade. Aos alunos dessas instituições é permitido o acesso remoto a todo o conteúdo. 
 
À primeira vista a ideia se parece com a da Pasta do Professor, mas o diretor executivo Richardt Feller, que trocou Curitiba por São Paulo e já está se instalando no escritório da empresa na Avenida Paulista, disse que elas são diferentes. “A Pasta é mais uma contribuição do mercado para evitar a pirataria e legalizar as cópias, mas não tem formato digital. Já o Minha Biblioteca, que também é uma alternativa à pirataria, prevê o ensino de plataforma, com acesso livre de qualquer lugar”. Enquanto no projeto mais antigo é possível comprar o livro fracionado, neste novo só serão vendidos livros inteiros.
 
“Nesse momento, nosso objetivo é levar conteúdo digital a um maior número de alunos do Brasil”, disse. Mas este é só o começo, garante. Agora, as empresas estão concentradas em colocar o “Minha Biblioteca” na rua. A partir da publicação nesta segunda-feira, 23, do comunicado da Saraiva, a equipe – são quatro funcionários - está liberada para divulgar o serviço, apresentá-lo nas universidades, fechar negócios...
 
O site deve entrar no ar ainda hoje – www.minhabiblioteca.com.br
 
Conheça as editoras envolvidas no projetoO Grupo A é uma holding formada pelos selos editoriais Artmed, Bookman, Artes Médicas, McGrawHill, Penso e Tekne. Responsável pela publicação de livros científicos, técnicos e profissionais nas áreas de biociências, de ciências humanas e de ciências exatas, sociais e aplicadas, o Grupo possui, entre títulos impressos e e-books, mais de 2 mil títulos em catálogo. 
 
A Editora Atlas, fundada em 1944, conta com mais de 3 mil títulos publicados nas áreas de Contabilidade, Economia, Administração de Empresas, Direito, Ciências Humanas, Métodos Quantitativos e Informática. Suas publicações - livros-textos, livros de referência, dicionários e livros para concursos públicos – visam à melhoria do ensino e da Educação brasileira em sua totalidade.
 
Formado oficialmente no segundo semestre de 2007, o Grupo Editorial Nacional (GEN) reúne as editoras Guanabara Koogan, Santos, LTC, Forense, Método, Forense Universitária, AC Farmacêutica e EPU. O objetivo do grupo é prover o mais completo conteúdo educacional para as áreas científica, técnica e profissional (CTP). O GEN oferece um catálogo com mais de 2.800 títulos, alguns dos quais publicados também em Espanhol e distribuídos em toda América Latina. 
 
A Editora Saraiva é a maior editora brasileira no segmento de obras jurídicas e uma das mais importantes editoras de livros universitários nas áreas de administração, economia, contabilidade, marketing e negócios, além de editar obras de interesse geral. Hoje, seu catálogo reúne cerca de 3 mil títulos para o público universitário. É também uma das primeiras no ranking de livros didáticos e paradidáticos para ensino fundamental e médio.


Maria Fernanda Rodrigues - PublishNews - 24/05/2011 

terça-feira, 24 de maio de 2011

Livraria de NY vende um único livro


West Village é um dos bairros mais charmosos de Nova York. Os prédios de tijolinhos e as calçadas largas reservam boas surpresas, como restaurantes e lojas.
A livraria é uma delas. Estantes bem organizadas, livros meticulosamente distribuídos, avisos indicando quais as opções da loja. Uma estante mostra os livros mais vendidos. Em outra estão os livros em liquidação. Só que a livraria vende apenas um título: o Verão Marciano.
Pilhas e pilhas de livros, a mesma história, o mesmo título, o mesmo autor. Andrew Kessler teve a ideia de abrir a loja de um livro só para promover a primeira publicação dele.

"Quando eu terminei o livro, mesmo com toda a animação, eu me dei conta de que eu sou um autor desconhecido, sem apoio de editora. Fiquei preocupado, achando que meu livro não teria lugar merecido nas prateleiras de grandes livrarias e resolvi abrir uma loja para mim", diz ele.

Os moradores do West Village acharam tudo normal. "Tem uma loja aqui no fim da rua que vende apenas sal e chocolate", conta uma moradora.

Verão Marciano não é um livro de ficção. Andrew conta que teve a chance de estudar e acompanhar os trabalhos da equipe que mandou a sonda Phoenix para o pólo norte marciano. Ele estava lá, quando os cientistas vibraram com a descoberta de gelo e água em Marte.

Uma moradora do Village viu as fotos e gravuras, ouviu o resumo do próprio autor e decidiu comprá-lo.

O projeto de autopromoção deu muito certo, mas mesmo assim Andrew recebeu um aviso de despejo. A dona da loja encontrou um inquilino mais de acordo com as ambições capitalistas de Nova York. Ele terá que fechar a livraria.
Andrew está pensando em abrir novas livrarias de um só livro em outros lugares da cidade, ou, quem sabe, outros países. "Estou aceitando pedidos de franquia”. Mesmo se o projeto de franquia não der certo, esse novaiorquino de outro planeta diz que vai descobrir outro jeito para sempre divulgar a importância das pesquisas espaciais.
Veja a reportagem 

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Alunos copistas são a nova face do analfabetismo funcional

Foi no 4º ano do fundamental que Vanderson Washington da Silva aprendeu a ler e a escrever. Até ali, o jovem morador de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, era um aluno copista: só copiava no caderno o que via no quadro - letras que, para ele, foram por muito tempo desenhos sem significado. O problema dos alunos copistas é um exemplo recente do analfabetismo funcional, que no país atinge um terço da população. Dos que aprenderam a ler e escrever mais tarde, entre 9 e 14 anos - característica do copista -, só 13% se tornaram plenamente alfabetizados, apontam dados inéditos calculados pelo Instituto Paulo Montenegro a pedido do GLOBO, sobre jovens de 15 a 24 anos das nove principais regiões metropolitanas do país. Se a definição mais conhecida de analfabeto funcional é quem lê mas não interpreta um texto, com o copista é pior: como só copia, não sabe que o "a" que escreveu, por exemplo, é um "a". - São crianças que não se apropriam do significado das palavras. Mas vão galgando as séries porque, como copiam, conseguem cumprir algumas tarefas em sala - diz Marilene Proença, professora da USP e integrante da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional. 

Mostrando como o estudo sobre o copista é relativamente recente, é de 2007 uma das primeiras pesquisas sobre o tema, uma dissertação de Giuliana Temple na USP, orientada por Marilene Proença, com copistas da rede estadual paulista. O GLOBO teve contato com o problema dos copistas meses atrás, em reportagem sobre outro tema em Saracuruna, ao conversar com Marilene Silva, professora que coordena uma creche comunitária na área, a Santa Terezinha. Além de creche, ela oferece reforço gratuito a alunos da região. Foi lá que Vanderson se alfabetizou. - No colégio, a professora passava no quadro, eu copiava, copiava, mas não entendia nada, não - diz o menino, que sonha ser "dono de  empresa". "Chegam aqui sem conhecer o alfabeto" Também recebem apoio na Santa Terezinha os irmãos Keteley e Erick do Nascimento, na mesma sala de reforço de Jéssica da Silva e Douglas Ribeiro. Estudam na região, no Ciep 318 e na Escola Municipal Marcílio Dias. - Na escola, estão em anos que seriam as antigas 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries. Chegam aqui sem conhecer o alfabeto. Às vezes, nem números - diz a aluna do ensino médio Cristiane Mattos, que, dando aula na Santa Terezinha, é a alfabetizadora das crianças. 

No Piauí, Weldey Frankin, 14 anos, está matriculado no 3º ano do fundamental em Chapadinha Sul, zona rural de Teresina. Mas não sabe ler. Mudo, não passou por escola especial. Segundo a irmã, Amanda, "é ótimo desenhista". Desenha as letras dos livros. "Na hora de ele responder os exercícios, aponto as respostas no livro e ele copia", diz a irmã. - Já peguei um caderno de um aluno da 7ª série, de um colégio municipal de Porto Alegre, com tudo copiado corretamente. E ele não sabia ler. Era um artista! - conta Esther Grossi, ex-secretária de Educação de Porto Alegre e ex-deputada, presidente do Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação (Geempa), que atua com correção de fluxo escolar. 

- O aluno copista é forte candidato a ser um analfabeto funcional ao longo da vida - diz Ana Lúcia Lima, diretora-executiva do Instituto Paulo Montenegro, que desde 2001 calcula o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf). - Ele tem grande risco de se tornar o chamado alfabetizado rudimentar: reconhece algumas palavras, escreve um bilhete, dá um troco, e pronto. 

Dois dos principais motivos apontados para o analfabetismo funcional são alfabetização tardia e baixa escolaridade dos pais. Segundo dados inéditos do Instituto Paulo Montenegro, sobre jovens das Regiões Metropolitanas, entre os alfabetizados plenos, 90% aprenderam a ler até os 8 anos. Quando o pai ou a mãe tem o fundamental, cerca de 69% dos filhos são analfabetos funcionais ou alfabetizados em nível básico. Mas, quando o pai ou a mãe tem nível superior, até 75% são alfabetizados plenos. O peso da educação dos pais na dos filhos é mostrado ainda por dados do Pnud sobre jovens na América Latina. Quando os pais têm nível secundário, os filhos têm 5,4% de chance de chegar à universidade; já quando os pais têm nível universitário, os filhos têm 71,6% de chance de ir à faculdade. 

O pai de Vanderson, Jorge Salindo, estudou até a antiga 5 série; teve de ir "trabalhar em obra para ajudar em casa". No caso do copista, haveria mais um motivo: um sistema de ciclos ou progressão continuada malfeito. Aí, o aluno, mesmo só copiando, avança nas séries sem repetir. São em escolas com ciclo - prática que se intensificou no país a partir dos anos 1990 - que estudavam os copistas do estudo da USP e os que precisam do reforço da Santa Terezinha. Marilene Proença diz que o ciclo "é política cara", que requer ações como reforço e contraturno. Para Esther Grossi, o copista "é um fenômeno dos ciclos". 

A Secretaria estadual de Educação de São Paulo informou que oferece "o Projeto Intensivo de Ciclo, que possibilita recuperação da aprendizagem de leitura e escrita por turmas especiais". Secretária de Educação de Duque de Caxias, Roseli Duarte diz que a rede tem um programa de apoio com contraturnos. - Não podemos aceitar a existência de alunos copistas. Mas os ciclos são uma resposta à repetência, que, além de levar à evasão, nos anos iniciais causa a distorção idade-série - diz a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar. - Temos de pensar é em ações como educação integral, que já há em 15 mil escolas, e em qualificar os professores de alfabetização, com projetos como o Pró-Letramento, que já atingiu 300 mil professores.





Alessandra Duarte e Efrém Ribeiro - O Globo - 16/05/2011

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Jovem lê sim e redes sociais ajudam a aproveitar melhor a aula

Ler obras juvenis ou best-sellers é apenas o começou de uma longa e produtiva convivência com os livros. Isso é o que defende a revista Veja na reportagem de capa da edição que está nas bancas e que ficará disponível on-line na próxima sexta-feira. 

A ideia de que o fenômeno Harry Potter teria resultados nulos, ou seja, não levaria os jovens leitores a se aventurarem por outras leituras que não fossem as relacionadas ao bruxinho, encampada por críticos como Harold Bloom, não se concretizou e hoje os antigos leitores de J. K. Rowling já lêem Jane Austen, Oscar Wilde, George Orwell e Rubem Fonseca e se reúnem em clubes de leituras. 

Outras duas matérias publicadas nesse fim de semana, na Revista O Globo (assinantes) e no New York Times (em inglês), não dizem respeito diretamente à literatura, mas discutem o uso de computadores e redes sociais durante as aulas. 

O jornal americano conta que o resultado tem sido excelente, com alunos que antes não conseguiam levantar o braço para fazer uma pergunta falando pelos cotovelos, no bom sentido, pelo Twitter durante as aulas - sobre o tema em discussão, claro. Em algumas escolas cariocas o computador já pode entrar em sala de aula, mas os educadores ainda são reticentes quanto ao efeito disso.

PublishNews - 16/05/2011 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Um geração descobre o prazer de ler

Os leitores adolescentes impulsionaram os maiores sucessos das livrarias na última década. Nunca se produziu, traduziu e fez circular tanto livro para eles como agora. O que se vê é a multiplicação dos jovens que gostam de ler, reconhecendo que um bom texto ainda é, para a vida pessoal e profissional, um instrumento decisivo. Nesta reportagem especial, sugestões de caminhos de leitura a partir das listas de mais vendidos, como Harry Potter e Crepúsculo, até chegar aos clássicos da literatura.
Clique aqui e leia a reportagem na íntegra.

Com informações da ABDL.

Bruno Meier - Veja - 18/05/2011 

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Editora transforma papelão em livros e ajuda catadores

Potes de tinta, pincéis, cola, papel e estiletes são todo o material necessário para transformar papelão em capas de obras de autores como Alan Pauls, Fabián Casas, Glauco Mattoso e Haroldo de Campos. Esta é a proposta de Eloísa Cartonera, uma editora independente e auto-gerida, criada em 2003, ano em que a Argentina sofria as repercussões do colapso político-econômico do país em 2001. 

A ideia era simples: comprar papelão de catadores por valores mais justos do que os geralmente oferecidos e transformá-lo em livros. Cortados e pintados à mão de um a um, o material então inutilizado, destinado a acumular mais detrito nos lixões da cidade, deram título a mais de 200 obras de autores latino-americanos, vendidas a preços acessíveis à população. 

Idealizada pelos artistas argentinos Washington Cucurto e Javier Barilaro em 2003, a livraria, que também funciona como estúdio da produção artesanal em série, fica a somente dois quarteirões da Bombonera, o estádio de futebol mais famoso do país. Apesar da localização turística, o lugar ainda é pouco visitado por estrangeiros. 

“Geralmente quem vem aqui já conhece nossa história. Os turistas que vêm comprar uma camiseta do Boca Juniors geralmente não captam a sensibilidade do nosso projeto”, explica Alejandro Miranda, um chileno que, de tanto frequentar o local, começou a trabalhar com a cooperativa há três anos. 

Sem parar de cortar papelão por um minuto enquanto conversava com o Opera Mundi, Alejandro, que dedica pelo menos quatro horas de seu dia ao ofício de confeccionar as obras literárias, conta animado sobre a evolução da editora. Tudo começou com uma pequena livraria no bairro de Almagro, com a publicação do livro Pendejo (Pentelho, em português), da escritora argentina Gabriela Bejerman. 

Inicialmente, as capas das obras eram confeccionadas pelos próprios catadores que vendiam o papelão à editora. Com a dificuldade de fomentar uma adesão constante dos trabalhadores, a cooperativa mudou a sistemática e hoje simplesmente adquire o material coletado por eles, e formou seu próprio grupo de trabalho, hoje integrado por oito membros. 

De lançamento em lançamento, as obras do catálogo de Eloisa Cartonera hoje chegam a cerca de 200 títulos, assinados por autores chilenos, peruanos, uruguaios, mexicanos, costa-riquenses e venezuelanos. A editora se dedica à publicação de livros de romance, poesias, contos, relatos, micro-contos, literatura e poesia infantis, estes últimos complementados com delicadas ilustrações e páginas coloridas. 

Veja fotos.


Luciana Taddeo - Opera Mundi - 14/05/2011 

terça-feira, 17 de maio de 2011

Biblioteca Nacional completa 200 anos de portas abertas ao público

Intelectuais como Benjamin Constant, João Caetano e Manoel Antônio de Almeida tiveram presença registrada (e frequente) na Biblioteca Nacional, cuja abertura para o público completou ontem 200 anos. A instituição, fundada em 1810, teve, em seus primeiros meses, acesso franqueado apenas à Família Real. O privilégio caiu por ordem do então príncipe-regente D. João VI, que dispôs as 60 mil peças do acervo a pesquisadores da Corte - desde que autorizados por ele. A trajetória dos frequentadores entre as estantes será lembrada, na semana que vem, em uma mostra no saguão da biblioteca.

FOTOS: Os 200 anos da Biblioteca Nacional em imagens.
Além dos ilustres, a instituição contava com uma penca de indesejados - e não fazia questão de esconder seus nomes. Avisos como "prohibida a entrada de Aarão Ackermann e David Vieira, por haverem retalhado e subtrahido paginas de livros que lhes foram dados para consulta (...)" já foram comuns na entrada da biblioteca.

- Volta e meia acontece de folhearmos uma obra e ver uma janelinha no meio da página. Era alguma coisa, provavelmente uma gravura, retirada com canivete - conta Mônica Rizzo, diretora do Centro de Referência e Difusão da Biblioteca Nacional.

Os prefeitos, como eram chamados os administradores da coleção, precisavam lidar com outras tentações. Livros (e até jornais) eróticos deviam ser alojados no inferno, um espaço cuja consulta era proibida. A seção não existe mais, embora obras condenadas judicialmente - como a biografia não-autorizada "Roberto Carlos em detalhes", de Paulo Cesar de Araújo - continuem vetadas aos leitores. E, durante o regime militar, fichas como as de Karl Marx teriam "desaparecido" do acervo.

- D. João fazia aniversário no dia 13 de maio, e era praxe ele aproveitar a data para assinar medidas importantes. Em 1811, uma delas foi a abertura da biblioteca para pesquisadores autorizados - explica Mônica. - Fazia-se um pedido por escrito. Esta formalidade caiu apenas três anos depois, quando o acesso foi liberado para toda a população.

Não que a biblioteca tenha sido invadida por leitores ávidos. Afinal, a cidade contava com apenas 60 mil pessoas, e o número de alfabetizados era um mistério.

- Cerca de 90% sabiam assinar os seus nomes, o que não quer dizer que todos conseguiam ler os livros - ressalta o historiador Nireu Cavalcanti. - Mas, ainda assim, a abertura da biblioteca à população foi um presente para a cidade. Tratava-se de uma das coleções mais respeitadas da Europa.

Pela sua formação ligeira, em apenas meio século, a coleção tinha de tudo um pouco, embora seus destaques fossem mapas e informações sobre as colônias. Estas, aliás, ficavam devidamente enclausuradas numa seção restrita, junto a outros documentos de Estado. A realeza não ia à biblioteca, mas mandava os criados buscarem o que lhes interessasse. D. Pedro II, notório intelectual, era o que mais fazia uso do serviço. Também foi ele, aliás, o maior doador individual da história da instituição. Boa parte de seu acervo foi para lá quando ele partiu para o exílio europeu, após a proclamação da República. Uma fotografia de sua coleção, retratando sua mulher, a imperatriz Teresa Cristina, está entre os dez documentos mais consultados da World Digital Library, site que reúne documentos de diversas bibliotecas do mundo.

A entrada da instituição na associação mundial, assim como o seu próprio site, são amostras de que a Biblioteca Nacional não briga com o futuro. A digitalização do acervo foi iniciada em 1982 e não termina tão cedo - afinal, 100 mil novos títulos dão entrada na instituição anualmente, e as fichas manuscritas do século XIX ainda não foram aposentadas.

- Os funcionários eram pagos por ficha de livro produzida. E precisavam ter boa caligrafia - pondera Mônica. - O catálogo produzido per$como consulta, porque, por mais que olhemos para trás, o futuro também exige atenção.

Renato Grandelle - O Globo - 13/05/2011 

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mauricio de Sousa toma posse na Academia Paulista de Letras

"É evidente que quadrinhos são literatura", afirma presidente da APL ao iG

Primeiro quadrinista brasileiro a integrar uma Academia de Letras, Mauricio de Sousa toma posse hoje da Cadeira 24 da Academia Paulista de Letras, durante uma cerimônia para convidados a ser realizada na própria APL, em São Paulo.
Eleito em 2 de dezembro de 2010, o inventor dos gibis da Turma de Mônica, que anunciou um pacote de séries de TV estrelado por seus principais personagens, foi elogiado pelo presidente da APL, Antonio Penteado Mendonça, que o recebe esta noite na sede da instituição.
"O Maurício chega como o melhor na sua área e é muito bem recebido pela Academia. Desde o primeiro dia após sua eleição ele tem sido um colaborador direto e próximo da diretoria, o que o faz muito bem vindo", afirmou, defendendo o pluralismo da Academia, que conta não apenas com poetas e romancistas, mas também juristas, médicos, engenheiros e filósofos.
Quando questionado sobre a discussão de histórias em quadrinhos serem ou não literatura, Antonio foi categórico, citando inclusive personagens de sua preferência, como Calvin, Snoopy, Mafalda, Asterix e Tintin. "É evidente que são literatura. E muitas vezes da melhor qualidade. Mais ainda, é desta literatura que o leitor salta para Dante, Machado de Assis e todos os grandes escritores e pensadores."
De acordo com o presidente, a posse de Mauricio de Sousa pode abrir as portas da APL e de outras Academias de Letras a quadrinistas.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Argentina: Artista constrói 'torre de babel' com livros de vários idiomas

Obra de Marta Minujin está exposta na Praça San Martin, em Buenos Aires. Unesco nomeou a cidade argentina como Capital Mundial do Livro em 2011. Veja a imagem:



Fonte: AFP - 11/05/2011


terça-feira, 10 de maio de 2011

Com quantos troncos se constrói uma biblioteca?

Árvores mortas viram ponto de troca de livro em Berlim





Em Belim, bem na esquina das ruas Kollwitzstraße and Sredzkistraße, no charmoso bairro de Prenzlauer Berg, fica uma nada tradicional biblioteca. Ela não tem nome, nem porta, nem parede, nem mesa e tampouco um bibliotecário pedindo silêncio. Pega livro quem quer, deixa livro quem quer. Construída com quatro troncos de árvores mortas, essa biblioteca natural é mais um dos pontos de troca de livros do BookCrossing. As obras da biblioteca-árvore, que estão ali só de passagem, ficam protegidas da chuva e do vento em prateleiras fechadas com portinhas de plástico, e estão ao alcance até das crianças.
Fonte: Publishnews

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Debate com artistas e curadores abre mostra Encontro da Imagem com a Palavra

Artistas e curadores conversam sobre o “Encontro da Imagem com a Palavra”, nesta segunda, 9 de maio, de 2011, às 19h, na biblioteca do Memorial. O bate-papo abre exposição de arte contemporânea que explora o tema e é vinculada diretamente à recente produção literária de artistas de países de língua portuguesa. Participam do debate o idealizador da mostra, Oscar D’Ambrosio, escritor, crítico de arte, curador e professor da Unesp, e Evandro Carlos Jardim, artista e professor da USP.

Segundo Ângela Barbour, artista plástica, gerente da Galeria Marta Traba, uma das curadoras da mostra e ex-orientanda dele, Evandro Carlos Jardim “é de certa forma um agregador dos artistas que trabalham com a arte gráfica, o desenho e obras papel com a escrita incluída no próprio trabalho artístico”. Os artistas convidados pelas curadoras  Altina Felício e Maria Pinto, além de Ângela,  investigaram a obra de escritores do Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, provocando um diálogo entre a arte da escrita e a arte visual.






Encontro da Palavra com a ImagemDebate com artistas e curadores
9 de maio, 19h
Biblioteca Latino-Americana Victor Civita.
ENTRADA FRANCA

Encontro da Palavra com a Imagem
Exposição de 10 de maio a 10 de junho de 2011
Terça a domingo, das 9h às 18h. Entrada franca.
Idealização: Oscar D’Ambrosio
Curadoria: Altina Felício, Ângela Barbour e Maria Pinto
Curadoria Literária: Aparecida da Graça Guimarães e Marina Gugliotti Pestana
Local: Espaço expositivo Biblioteca Latino-Americana Victor Civita
ENTRADA FRANCA






sexta-feira, 6 de maio de 2011

Curso Gratuito: Contadores de História do Patrimônio Paulistano

O Ponto de Cultura oferecido pela Colmeia em parceria com Secretaria de Estado da Cultura, oferece a você a oportunidade de conhecer a história de importantes patrimônios históricos, culturais e turísticos da cidade de São Paulo. Além de conhecer as curiosidades e a história de nossa Cidade participará de aulas e oficinas sobre técnicas de Teatro, Rádio, Contação de histórias, Vídeo e Fotografia.
Também faz parte várias visitas monitoradas aos pontos turísticos de São Paulo.
Ao final, serão realizadas apresentações em espaços públicos.

Período das aulas:
  • Aulas as segundas, quartas e sextas-feiras (eventualmente aos sábados pela manhã).
Duração: Permanente

Como se inscrever

Através do sistema http://www.colmeia.org.br/cadastro e depois compareça no horário comercial, de 2ª a 6ª feira com xerox de todos documentos e declaração da escola de conclusão ou que está cursando o Ensino Médio.

Local de realização do curso

Colmeia - Instituição a Serviço da Juventude
Rua Marina Cintra, 97 (Altura do 4.800 da Av. 9 julho)
Fone/fax: (11) 3881-1545 / 3881-1536

Exposição "Razão e Ambiente" no MAM

Sala Paulo Figueiredo

( 19 ABR - 26 JUN )

Pioneirismo brasileiro na utilização de soluções arquitetônicas ecológicas é o mote da exposição Razão e ambiente, com abertura no MAM-SP em 19 de abril (terça-feira), a partir das 20h.


Com curadoria de Lauro Cavalcanti, exposição da Sala Paulo Figueiredo tem como referências centrais os arquitetos Lina Bo Bardi, Sergio Bernardes e Lucio Costa, cuja instalação Riposatevi (1964) ganha remontagem.
O pioneirismo da arquitetura brasileira modernista na utilização de soluções ecológicas e seus desdobramentos na arquitetura sustentável de hoje são o tema da exposição Razão e ambiente, curadoria de Lauro Cavalcanti para o MAM-SP com abertura na Sala Paulo Figueiredo no dia 19 de abril (terça-feira), a partir das 20h. A exposição complementa a mostra da Grande Sala, Morada ecológica, trazendo o debate da arquitetura sustentável para o âmbito do Brasil. São 21 obras contemporâneas, exibidas por meio de projeções, selecionadas por qualidades arquitetônicas que tratam a preocupação ecológica por diferentes aspectos. São homenageados três arquitetos modernos que também abordaram questões ecológicas: Lucio Costa (1902-1998), Lina Bo Bardi (1914-1992) e Sergio Bernardes (1919-2002). Uma parceria com a Escola da Cidade traz quatro Trabalhos de Conclusão de Curso de seus alunos, escolhidos pela qualidade e pertinência ao tema da exposição.
Veja mais 

quinta-feira, 5 de maio de 2011

No Brasil, 14 milhões não sabem ler nem escrever

O país ainda tem 9,6% da população com 15 ou mais anos analfabeta. A revelação está no Censo 2010, divulgado nesta sexta-feira (29) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar da queda de quatro pontos percentuais --no Censo de 2000, o índice era de 13,6%-- quase 14 milhões de brasileiros (13.940.729) ainda não sabem ler nem escrever. A maioria dos analfabetos do país está no Nordeste. Sozinho, ele concentra 53,3% (7,43 milhões) do total de brasileiros que não sabem nem ler nem escrever. Esse percentual é maior do que em 2000, quando era de 51,4%. 
Quando são considerados apenas os habitantes da região, o índice de  analfabetismo é de 19,1%. O Nordeste também tem o Estado na pior situação: 24,3% dos habitantes de Alagoas (537 mil em 2,21 milhões) são analfabetos. Em 2000, eram 33,4%. A região Centro-Oeste, no entanto, continua com o menor total de analfabetos dentre todos os habitantes do país --5,5%, apesar do aumento de 0,1 ponto percentual em relação a 2000. A região com menos analfabetos entre a própria população é a Sul, com 5,1% (índice que era de 7,7% há dez anos). O Distrito Federal continua como a unidade da federação com a menor taxa: 3,5% em 2010, 5,7% em 2000. Os dados de analfabetismo ainda são preliminares. Segundo o IBGE, eles são números puros e podem sofrer   alterações. Rural x urbano - As maiores taxas de analfabetismo estão nas zonas rurais. Enquanto a taxa nas regiões urbanas chega a 7,3%, no campo ela chega a 23,2%. Com exceção de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, todas as outras unidades da federação têm taxa de analfabetismo que supera 10%. Alagoas também ostenta o título de "campeã" nesse quesito: 38,6% da população rural com 15 anos ou mais não sabe ler nem escrever. Nas áreas urbanas, a maior taxa está também em Alagoas, com 19,58% da população das cidades analfabeta. O Distrito Federal também tem a menor taxa urbana, de 3,26%.


Rafael Targino - UOL Educação - 30/04/2011 

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Exposição de caligrafia distribui “palavras de sorte”


O artista Liao Shih Ping apresenta as obras feitas por seus alunos
Em comemoração ao “Dia das Mães” o Centro Cultural Taipei de São Paulo apresenta as obras de alunos do Profº Liao Shih Ping, a partir das 15h e com entrada gratuita. Durante a exposição “100 anos de Fundação da República da China”, o público entra em contato com a caligrafia chinesa e ganha ideogramas com “palavras de sorte”.
A exposição traz demonstração de caligrafia chinesa


O CC Taipei apresenta acervo com peças de vestuário típico, antiguidades, figurinos de teatro etc
Veja mais sobre a exposição aqui.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Falta de livros em casa prejudica estudantes brasileiros


A carioca Ana Luiza, 12 anos, chegou em casa cansada depois de um dia atarefado na escola. Largou a mochila no quarto e falou para a mãe, Christiana Ferreira, 40 anos: "Estou estressada. Vou ler um livro para relaxar". E se dirigiu para a estante para escolher um dos de cerca de 300 livros da família.
A cena na casa da família carioca, porém, não é regra nos lares brasileiros. É o que mostra um levantamento do Movimento Todos Pela Educação, com base no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). A pesquisa, de 2010, analisou 65 países e constatou que 39% dos estudantes brasileiros declararam possuir, no máximo, dez obras literárias.
Além disso, no ranking de alunos que afirmam ter mais de 200 livros em casa, o Brasil ocupa a 64º posição. A realidade se torna ainda mais preocupante com outro dado revelado pelo estudo. De acordo com o levantamento, o estudante que tem até 10 livros em casa tem notas 15% menores em português e ciências do que aquele que tem entre 100 e 200 obras na estante da sala. Em matemática, o diferencial sobe para 17%.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sábato, um homem com compromisso ético que a arte salvou do suicídio

Escritor argentino, um dos grandes nomes da literatura latino-americana, morreu neste sábado, aos 99 anos


O escritor argentino Ernesto Sábato, morto neste sábado aos 99 anos, se destacou por um firme compromisso político e ético que permeou sua obra e graças à arte salvou-se do suicídio, segundo confessou em entrevistas.
Nascido em Rojas, na província de Buenos Aires, em 24 de junho de 1911, o autor de "O Túnel" se consolidou como o expoente da literatura argentina com maior projeção internacional. Agraciado com o Prêmio Cervantes em 1984, o escritor chegou a ser indicado pela Sociedade Geral de Autores e Editores da Espanha como candidato ao Prêmio Nobel de Literatura de 2007.
"A arte me salvou e por isso minha arte é trágica", afirmou em 1992 o autor de "Sobre Herois e Tumbas" à revista "Newsweek", à qual confessou que tentou o suicídio duas vezes.
Simpático ao socialismo, Sábato também foi reconhecido por sua defesa dos direitos humanos. Em 1984, presidiu a Comissão Nacional sobre Desaparecimento de Pessoas (Conadep), que redigiu o "Relatório Sábato", também conhecido como "Nunca mais", sobre os horrores da ditadura militar argentina (1976-1983).
Sábato também escreveu cartas contra o terrorismo da ETA e ensaios sobre a dramática situação da infância no mundo. "A Humanidade vive um tempo de imoralidade", advertiu no final de 2000 em um texto para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O prólogo do relatório "Nunca Mais" valeu ao escritor fortes críticas de organizações humanitárias que questionavam a chamada "teoria dos dois demônios", sobre a violência política que sacudiu a Argentina na década de 1970.
No texto, o escritor sustentou que naqueles anos, a Argentina "foi convulsionada por um terror que provinha tanto da extrema direita como da extrema esquerda". "Nossos filhos não eram demônios. Eram revolucionários, guerrilheiros, maravilhosos e únicos que defenderam a Pátria", afirmou a presidente da Associação Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, durante um discurso proferido em 24 de março de 2006, quando foram completados 30 anos do golpe militar.
"O que Sábato fez é uma porcaria, mas é seu pensamento", avaliou Hebe. Mas a postura comprometida de Sábato não diminuiu seu número de leitores: seu ensaio "A resistência" (2000), que foi publicado primeiro na internet, apesar da aversão do escritor a tudo o que significasse globalização, foi um sucesso e a primeira edição impressa, de 100 mil exemplares, se esgotou rapidamente.
A fama internacional chegou em 1961, com o romance "Sobre Herois e Tumbas", e a consagração em 1974, com "Abaddón o exterminador", que foi premiado na França, onde também recebeu o título de Cavaleiro das Artes e das Letras.
Antes de se iniciar na literatura, Sábato estudou física na Universidade Nacional de La Plata e entre 1938 e 1939 foi bolsista no Laboratório Curie de Paris. Em seu retorno à Argentina, em 1940, se dedicou ao ensino e publicou sua primeira obra, uma coletânea de ensaios intitulada "Um e o Universo", em 1945, quando abandonou sua carreira científica para se dedicar totalmente à literatura.
Sua última obra publicada foi "Espanha nos Diários da Minha Velhice", fruto das viagens feitas ao país em 2002, quando a Argentina se submergia na mais feroz crise econômica de sua história. Entre os inúmeros prêmios recebidos por Sábato, também estão o Menéndez Pelayo (1997) e o Gabriela Mistral (1983), entregue pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
Sábato também recebeu críticas de outros escritores, como Jorge Luis Borges. "(Sábato) escreveu pouco, mas esse pouco é tão vulgar que nos aflige como uma obra copiosa", definiu em 1956 o autor de "O Aleph", segundo o diário que Adolfo Bioy Casares escreveu sobre suas conversas com o amigo Borges.
Sábato também preencheu seu tempo com a pintura, embora tenha confessado que seu "espírito autodestrutivo" o levou a destruir boa parte de suas obras. "Forçado por amigos", segundo declarou, apresentou uma dezena de suas obras em 1989 no Centro Pompidou, de Paris, antes de fazer o mesmo em Madri.
O escritor argentino atravessou momentos difíceis em sua vida com a morte do seu filho mais velho, Jorge, em um acidente de trânsito em 1995, e depois de sua primeira esposa, Matilde, em 1998. Em seguida, Elvira González Fraga entrou em sua vida e o acompanhou da viuvez à morte.
Fonte: Último Segundo 30/04/2011

domingo, 1 de maio de 2011

Iniciação à leitura - ROSELY SAYÃO

'Criar o hábito da leitura' já perdeu o sentido. Queremos que as crianças leiam por prazer ou por costume?


CRIANÇA PODE adorar livros e histórias, desde que os adultos não atrapalhem. E como temos atrapalhado o que poderia ser uma verdadeira paixão pelos livros!
Ler é bom, precisamos formar leitores, a vida sem a literatura não teria graça, temos de incentivar o hábito da leitura nas crianças e nos jovens etc. Afirmações como essas brotam da boca de pais e de professores assim, sem mais nem menos.
Temos gosto em pegar frases e repeti-las muito, até que elas percam seu sentido, não é verdade? Assim aconteceu com essas e outras afirmações que tratam da importância da leitura na vida dos mais novos: tanto fizemos que conseguimos esvaziar o que elas dizem.
Primeiramente quero falar dessa expressão horrorosa: "Criar o hábito da leitura". Ah! Vamos aproveitar e lembrar outra semelhante: "Criar hábito de estudo".
Nós queremos que as crianças tenham prazer com livros e histórias ou queremos que adquiram um hábito?
Leitura, tanto quanto estudo, não deve ser tratada assim. Um hábito se instala e pouco -quase nada- acrescenta à vida de uma pessoa.
Já o amor, o prazer, o gosto verdadeiro pela leitura ou pelo estudo são capazes de mudar a nossa vida. Ler e estudar devem ser uma escolha, uma vontade, uma busca por algo que não se tem.
O bebê já pode ser introduzido ao mundo dos livros e da leitura. Pais e professores podem começar contando histórias e oferecendo livros para que ele manuseie, explore, se entretenha com esse objeto. E não precisa ser livro de plástico, que produza som ou coisa semelhante. Livro de verdade mesmo, de papel, com figuras bonitas e letras, encanta o bebê.
O escritor Ilan Brenman, apaixonado pela literatura, afirma que um requisito importante para iniciar as crianças no universo da leitura é a beleza do livro. Sim: uma capa bonita já chama a atenção da criança, tanto quanto as ilustrações. Aliás, muitos livros sem palavras são lidos pelas crianças com a maior atenção.
Ainda falando de bebês e crianças muito pequenas: o papel do livro, suas diferentes texturas, odores e cores também já são alvo da curiosidade delas e objeto de pesquisa concentrada.
E o que dizer de livros de histórias que crianças já conhecem e adoram -"Peter Pan" e "Alice no País das Maravilhas", por exemplo- com adaptação em "pop-up"? Imperdíveis, já que encantam crianças e adultos.
Não devemos menosprezar as crianças quando o assunto é história: elas não gostam apenas daquelas que foram escritas para as crianças. Toda a literatura, principalmente a clássica, pode ser oferecida, sem censura.
Tornar a leitura um ato obrigatório é uma dessas manias que nós adotamos com as crianças que prejudicam a descoberta que elas poderiam fazer do prazer da leitura. Tudo bem: isso pode ser feito como tarefa escolar, mas depois, bem depois de oferecer a elas a oportunidade de ler por gosto e não por obrigação, no fim do ensino fundamental, por exemplo.
Finalmente: a literatura não deve servir para moralizar a vida dos mais novos.
Nada de contar histórias que só servem para tentar "ensinar" a criança a ter bons modos, escovar os dentes etc. A educação moral e para a higiene, por exemplo, deve usar outros recursos.
Que tal um programa com seu filho? Visitar uma biblioteca ou uma livraria para procurar um livro bonito e gostoso de ler e de ouvir?
Certamente você e seus filhos irão aprender muito sobre a vida e sobre vocês mesmos nesse programa. E boa viagem!

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)
Fonte : Jornal Folha de São Paulo, 26 de abril de 2011