segunda-feira, 4 de março de 2013

Templo do livro, modelo em xeque


A atual fase da era digital, marcada pela expansão do mercado de e-books, vem acentuando o debate sobre o destino das bibliotecas tradicionais - e o seu incontornável impacto na formação de leitores


Bibliotecários do Reino Unido ficaram em polvorosa com uma recente declaração do escritor inglês Terry Deary. Autor de obras infantis e juvenis, publicadas inclusive no Brasil, ele disse: "As bibliotecas tiveram seu momento. Elas são uma ideia vitoriana e estamos na era digital. Ou mudam e se adaptam ou deverão ser fechadas. Muito da chiadeira atual é sentimentalismo". A realidade de seu país em crise, onde as bibliotecas sofrem com corte de verba e encerramento de atividades e brigam com editoras pela questão do empréstimo de e-books, é bem diferente da brasileira.
Frequentadores da Biblioteca de São Paulo leem no papel e na tela de um e-reader - Márcio Fernandes/AE
Márcio Fernandes/AE
Frequentadores da Biblioteca de São Paulo leem no papel e na tela de um e-reader
Aqui, a briga é para zerar o déficit de bibliotecas. De acordo com o Censo Nacional de Bibliotecas Municipais, de 2010, 20% das cidades não contam sequer com uma sala de leitura. O dado é ainda mais preocupante nas escolas públicas. O Censo Escolar mostrou que 72,5% ficam devendo esse espaço para seus alunos - existe uma lei que determina que até 2020 essa questão seja resolvida. Outro desafio é a conquista de novos leitores. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, 75% dos brasileiros jamais pisaram numa biblioteca. O mesmo levantamento mostrou que 20% dos entrevistados frequentariam uma, se houvesse livros novos. Mas nada convenceria 33% a fazer isso.
"A biblioteca não é um organismo à parte na constituição de uma sociedade: a biblioteca é reflexo dela e responde a ela. Por isso é que temos tão poucas bibliotecas no Brasil", comenta Maria Antonieta Cunha, especialista no assunto e desde 2012 à frente da Diretoria do Livro, Leitura e Literatura, órgão subordinado à Fundação Biblioteca Nacional. Mas o Brasil é, claro, um país grande e desigual, e também no que diz respeito ao acesso a livros vive, simultaneamente, passado, presente e futuro. Enquanto uns correm para resolver essas questões básicas e urgentes, outros veem o momento em que será possível emprestar um livro digital de uma biblioteca e lê-lo no e-reader, tablet ou celular.

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